terça-feira, 4 de dezembro de 2007

(O) culto maquinico - Parte 1

Prólogo

Silencioso no canto estava.
Procurava entender a situação.
Primeiro a luz, o barulho e aquele vendaval.
Observava as baratas pelo chão, tontas e agitadas.
Quando o silencio chegou, olhou para o céu cinzento procurando brechas de luz solar.
Sua bateria duraria mais 19 horas. Ainda imóvel processava os dados dos atos a seguir.
Entraria em um estado de hibernação pois segundo seus cálculos aquela poeira toda demoraria exatamente 56 horas para se discipar, e assim poderia receber a luz solar e carregar as baterias completamente.
Achava estranho aquele acontecimento. Como não obteve a informação que aquilo ocorreria? Nunca um acontecimento desse o pegaria de surpresa.
Sabia quando o tempo estaria nublado ou chuvoso, assim recarregaria suas forças antes que isto acontecesse e poderia abastecer suas provisões.
Do chão, pegou uma barata. Calculou o potencial energético do animal e concluiu que caso fosse, poderia extrair uma pequena quantidade de energia de sua estrutura nervosa primitiva, só por precaução. Mas decidiu que não. Se acomodou próximo a uma tomada elétrica que não emitia energia e ali ficou.


56 horas depois

Saiu do modo Sleep exatamente no tempo calculado.
Se levantou, rugindo algumas peças.
As baratas continuavam ali.
Decidiu procurar seu humano mais cativo. Mas a configuração da casa havia mudado. A porcentagem vermelha da barra de alerta aumentou.
Cruzando o quarto do menino, notou mudanças bruscas nas configurações visuais da moradia, por vezes isto acontecia, mas estas mudanças estavam fora do padrão programado como usuais. Reparou a sombra de seu segundo humano na parede no final da sala, acelerando o passo para o contato direto. Porém quando chegou próximo a sombra notou que faltava uma coisa. O corpo que a projetava. O processador calculou novamente. Era uma sombra. Sem o humano que a projetava. Processou novamente em vão e sem resposta o sistema projetou algumas possibilidades como: poderia ser uma pintura do tipo rupestre, ou uma grafismo com denotação humorística, áreas complexas do comportamento humano.
Recebeu um sinal do sensor de suas baterias que deveria procurar o sol, para banhar suas placas foto-sensiveis aos raios luminosos.
Com uma rotação precisa, focalizou o céu e embora ainda cinzento, notou que alguns raios ultrapassavam as nuvens de poeira e chegavam ao chão.
Fez um reconhecimento visual da superfície e por cima de alguns entulhos conseguiu ficar exposto a luminosidade. Foi seguindo o movimento do raio solar, calculando seu curso e tempo. Por algum tempo foi trocando de feixe a medida que um se extinguia e o potencial energético de outro parecia mais relevante. E assim passou o resto da tarde daquela quarta-feira, 18 de setembro de 2064.

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