sábado, 23 de agosto de 2008

Pequenos contos do Senhor Jack - O Novo Chapeiro

O Novo Chapeiro

Silencioso no canto estava.

Observava com atenção as instruções de seu colega. Este, postado em frente a chapa de fritura, mostrava o quão delicada e especializada era a técnica de se fritar hamburgers. Demonstrava como deveria ser colocada a carne congelada sobre a chapa quente e quais eram as etapas de se montar o tal sanduíche. Ao terminar sua explanação, esticou o braço entregando a espátula gordurenta ao novo funcionário, que no canto da cozinha, formulava algumas questões sobre tais procedimentos. Ao pegar na espátula, pode sentir o deslizar de seus dedos sobre o metal e não pode esconder a expressão de nojo perante tal experiência. – Tens uma luva? Daquelas de plástico sabe? Descartáveis! – indagou o novo funcionário, enquanto procurava com o olhar algo para limpar a gordura entre seus dedos. O colega, desapontado com tal indagação, pois se a explicar, o que para ele, era o segredo e ao mesmo tempo o brilho que mais traduzia o desejo humano/animal sobre aquele objeto de desejo.

- Veja bem – iniciou a explicação pausadamente, focando a importância do que diria.

- Se eu te dou uma luva, destas de plástico ou de borracha, você ira manejar o hambúrguer com mais higiene, com certeza, e seus dedos não voltaram a sentir o deslizar húmido da gordura no metal da espátula. Porém digamos que, por acidente, você encoste a tal luva na chapa? Certamente o cheiro de borracha queimada subira no ar e atrairá a atenção dos clientes e faces de nojo se transformarão em reclamações e duvidas quanto a qualidade do produto! Veja que isso é um grave problema, ninguém come em um lugar que fede a plástico derretido ou a borracha queimada. Agora pense no mesmo acidente, o de encostar sua mão acidentalmente na chapa de fritura, se você estiver sem luvas, o cheiro da sua carne, da carne de seus dedos, irá se confundir com a fritura da carne do hambúrguer e nada acontecerá! Carne é carne, não da para distinguir a fritura da carne do lanche com a da carne de sua mão! – E com um olhar vitorioso, ajudado pelas sobrancelhas erguidas e um leve bico formado na boca, voltou a realidade e foi entregar o tal sanduíche para a mesa 3, enquanto a aprendiz limpava a gordura da mão em seu avental novo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Peuqenos contos do Senhor Jack - O Homem da Cama

o Homem da Cama

Silencioso na cama estava.
Serrava os olhos para que ela não percebesse que ele estava acordado. Ela tinha saído da cama a uns 15 minutos ou mais. Ele, deitado no meio da cama, finja estar dormindo para poder pensar com calma no que tinha acontecido. Faziam seis anos que ele não a via. Mas logo percebeu que ela não tinha mudado em quase nada. Continuava aquela vagabunda dos tempos do segundo grau. Tinha emagrecido um pouco, isso tinha, mas aquela força maldosa de seus olhos castanhos, ainda continuavam, porém mais maduras e fortes. E ali, naquele quarto desconhecido, tudo parecia fazer mais sentido. Estava se segurando para não se apaixonar por ela novamente como a seis anos atrás. Tentava, mas não com muita vontade. Em seis anos tinha superado a dor da perda anterior e pensava, com malandragem, que poderia tirar proveito da situação. Digo malandro, como todo o homem jovem acha que é. Estava um pouco preocupado por que o sexo foi rápido demais. Mas ele achava que ela tinha gozado, pelo que pode perceber, ela não tinha por que fingir para ele. Para ele, pensou sorrindo de canto de boca, para o marido...
Ele se sentia bem. Vitorioso como um bom másculo. Viril e sacana, como um bom homem. Afinal quem tinha que ir embora dali a dois dias ela era. Ele apenas voltaria para a casa da mãe, a poucas quadras dali. E ali, esparramado sobre a cama fingindo estar dormindo, pensava no próximo passo. Como convence-la a voltar. Para cama ou para ele tanto faz. tinha superado a perda de seis anos atrás, e se achava capaz de ser mais esperto que a vagabunda.
Sentiu um vento frio entrar pela janela e viu, mesmo com os olhos semi-abertos, o pano podre da cortina se levantar. Respirou fundo e fechou os olhos para enfim dormir o sono dos pródigos, sem pensar no que ela fazia no outro canto do quarto.

O Canto da Vagabunda

O Canto da Vagabunda

Silenciosa no canto estava.
Pensava no que acabava de fazer. Vagarosamente torceu o pescoço para trás até alcançar a visão da cama. Estava nua e cobria com os braços os seios ainda rijos. Logo após visualizar a cama, e o sujeito que nela estava, voltou novamente o olhar para o canto da parede. Ainda podia sentir a pele húmida entre as pernas. Achava estranho, porém confuso demais para definir. Ela não tinha gozado, talvez estivesse tensa demais para isso, ou desacostumada a um corpo diferente junto ao seu. Tinha que voltar daqui a dois dias, deixar aquele canto e voltar a sua vida monótona e cansativa. Olhou novamente sobre o ombro. O homem dormia espalhado pela cama. Decidiu que tomaria um banho, mas não queria acorda-lo com o barulho do chuveiro. Neste momento percebeu que se sentia suja. Seu corpo então começou a exalar um suor fétido, que junto com o odor de sua virilha quase a fez vomitar. Se sentia suja mas nem dez banhos poderiam a limpar. Tapou o nariz com uma das mãos deixando amostra o seio direito e as marcas vermelhas deixadas pela barba mal feita do homem na cama. ainda bem que tinha dois dias e que quando voltasse ao lar elas já teriam sumido, mas bem que poderia disfarçar com aquele pijama mambembe ou passando aquele creme que, por sorte não jogou fora, pois irritava sua pele, provocando manchas vermelhas similares a essa. Tentava não pensar no futuro, tentou organizar uma fala para sua volta, mas desistiu sem muito interesse. Por um momento sua pele se arrepiou com o vento gélido que veio de repente pela janela, levantando o velho trapo que era usado de cortina. Pensou que o vento pudesse levar aquele mal odor de sua pele mas ao respirar com mais cuidado percebeu que não, que ainda estava suja.
E por fim sabia que aquela sujeira não iria sair tão cedo, que o líquido viscoso que escorria por suas pernas não sairia dali nunca, e que aquele homem na cama era apenas mais um.
Ele era apenas mais um homem que ela tinha o prazer sarcástico de devorar, e que ele, quando acordasse, seria mais um a deseja-la com aquele ciúmes doentio e uma paixão passageira, que só aquela vagabunda sabia invocar.