tag:blogger.com,1999:blog-76919645782631848832024-03-07T22:38:22.847-08:00arteegoMorada do Chapeiro!
Escritos de Arte, Tecnologia, Comunicação e ficção científica.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.comBlogger28125tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-12111019902243359362010-02-01T09:13:00.000-08:002010-02-01T09:14:50.089-08:00O Novo ChapeiroSilencioso no canto estava.<br />Observava com atenção as instruções de seu colega. Este, postado em frente à chapa de fritura, mostrava a quão delicada e especializada era a técnica de se fritar hambúrgueres. Demonstrava como deveria ser colocada a carne congelada sobre a chapa quente e quais eram as etapas de se montar o tal sanduíche. Ao terminar sua explanação, esticou o braço entregando a espátula gordurenta ao novo funcionário, que no canto da cozinha, formulava algumas questões sobre tais procedimentos. Ao pegar na espátula, pode sentir o deslizar de seus dedos sobre o metal e não pode esconder a expressão de nojo perante tal experiência.<br />– Tens uma luva? Daquelas de plástico sabe? Descartáveis! – Indagou o novo funcionário, enquanto procurava com o olhar algo para limpar a gordura entre seus dedos. O colega, desapontado com tal indagação, pois se a explicar, o que para ele, era o segredo e ao mesmo tempo o brilho que mais traduzia o desejo humano/animal sobre aquele objeto de desejo.<br />- Veja bem – iniciou a explicação pausadamente, focando a importância do que diria.<br />- Se eu te dou uma luva, destas de plástico ou de borracha, você irá manejar o hambúrguer com mais higiene, com certeza, e seus dedos não voltaram a sentir o deslizar úmido da gordura no metal da espátula. Porém, digamos que, por acidente, você encoste a tal luva na chapa? Certamente o cheiro de borracha queimada subira no ar e atirará a atenção dos clientes e faces de nojo se transformarão em reclamações e dúvidas quanto a qualidade do produto! Veja que isso é um grave problema, ninguém come em um lugar que fede a plástico derretido ou a borracha queimada. Agora, pese no mesmo acidente, o de encostar sua mão acidentalmente na chapa de fritura, se você estiver sem luvas, o cheiro da sua carne, da carne de seus dedos, irá se confundir com a fritura da carne do hambúrguer e nada acontecerá! Carne é carne, não da para distinguir a fritura da carne do lanche com a da carne de sua mão! – E com um olhar vitorioso, ajudado pelas sobrancelhas erguidas e um leve bico formado na boca, voltou a realidade e foi entregar o tal sanduíche para a mesa 3, enquanto o aprendiz limpava a gordura da mão em seu avental novo.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-78515183404196395162009-07-18T06:23:00.002-07:002009-07-18T06:33:53.448-07:00A Morte do Chapeiro- Chame o Paulo!<br />- Senhor como te disse, já telefonamos e ninguém atende...-<br /> Nem Paulo estava ali. Se ele não estava, ninguém mais viria. <br />O Chapeiro resolveu ficar em silêncio e não discutir com o enfermeiro. Estava fraco e cada palavra proferida era uma imensa dor física que ardia os pulmões e reverberava por toda extensão da garganta. Estava sozinho em um quarto branco. O Silêncio do hospital o irritava tanto como o barulho da televisão. Estava inquieto, mas não poderia fazer muita coisa para mudar esta condição. Ele sabia que poderia morrer durante qualquer cochilada, e tentava se manter acordado. Seus olhos começaram a arder e percebeu que em mais algumas horas iria dormir e possivelmente não acordaria mais. Ele estava com incríveis 94 anos. Nos últimos 20 anos, assistiu ao enterro de suas duas irmãs, dois sobrinhos, de todos seus amigos íntimos e de sua última esposa. Só lhe restará Paulo, que tinha 72 anos, já era avô de uma linda menina chamada Elena.<br /> Seus pensamentos foram interrompidos pela imensa dor que lhe rachava o interior do tronco, retraindo todos os músculos e quase trancando a respiração. Apertou o botão para chamar o enfermeiro de plantão, que de pronto entrou no quarto e aumentou a dose no analgésico do soro. Após regular os aparelhos eletrônicos, o jovem sentiu sua manga sendo puxada pelo enfermo na cama.<br />- Paulo? – perguntou o Chapeiro em suas últimas...<br />O Enfermeiro não respondeu nada. Apenas ficou ali, a espera. Se arcou sobre o velho, podendo ver em detalhes as rachaduras brancas de sua boca seca e o amarelo dos olhos sonolentos.<br />O Chapeiro soltou a manga do jaleco, e delirando, via Paulo no semblante do enfermeiro. Sorriu de canto, fazendo as rachaduras da boca se esticarem. <br />- Paulo... só tenho a ti... estou com tanta saudades, que só vendo. Onde já se viu, eu fico sozinho o dia todo, todo mundo sai e entra, nem bom dia me dão. É uma coisa. Onde esta sua Tia? Tenho pensado nela ultimamente... cuide do filho dela pra mim. Eu amei muita gente nesta vida. Algumas por uma noite outra por mais de 10 anos, outras pela vida toda. – O chapeiro voltou a agarrar a manga do enfermeiro – Te digo que te amei desde o dia que vi o exame positivo de gravidez de sua mãe, ao lado do seu pai. Fumamos charuto e tomamos champanhe juntos, os quatro. E agora todos eles se foram. Sua tia foi a primeira que me deixou... aquela vadia... agora teu pai... agora você... depois de tudo que eu fiz na minha vida acabo aqui. – soltou a manga do jaleco. O enfermeiro, um pouco assustado, se pois ereto e foi saindo do quarto devagar, sem dar as costas totalmente para a cama. Ele se assustou, pois percebeu a sobriedade do olhar do Chapeiro em suas ultimas palavras. Um medo profundo se juntou a meia-luz do quarto, que o aterrorizando, assim, resolveu deixar o quarto. Ao escutar o barulho da porta se fechando o Chapeiro continuou a falar, agora sozinho.<br /> - Depois de tudo, acabo aqui. Sozinho. –<br />Deitado de lado na cama, chorou sem lágrimas e sentiu uma imensa dor a cada soluço do choro. Podia sentir seus ossos frágeis sob a tensão dos músculos condenados. E sob a meia luz do quarto, olhava pra parede branca ao lado da cama, quando resolveu se entregar e dormir, pra talvez não acordar mais. E enquanto fechava seus olhos lentamente, pode sentir seu corpo inteiro sendo anestesiado, e teve a consciência que era a morte que lhe tomava o corpo. Estava com os olhos metade fechados quando viu a projeção da luz da porta, ao lado oposto da parede, e a sombra de alguém que entrava. Tudo parecia em câmera lenta e em um silencio absoluto. Fechou os olhos ao mesmo tempo que deu o último suspiro. Mas um segundo antes, pode sentir a mão de Paulo tocar-lhe o ombro.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-31120114660361268012009-07-18T06:23:00.001-07:002009-07-18T06:23:43.418-07:00Premissas de perdãoE por um momento a dor passou. Deixando apenas saudades. Um imensa saudades, apertada e doce. Então o Chapeiro pensou no futuro. Pensou na possibilidade de deixar o exílio. A possibilidade de voltar. Por aquele momento isso não pareceu absurdo. Pareceu natural e sincero. Sentia que o tempo tinha mudado. Tudo estava do mesmo modo, mas algo tinha mudado na situação. Mas também deu graças de não poder realizar esta vontade agora. Mesmo se quisesse deixar o exílio agora não poderia por, por detalhes práticos, como o vôo de regresso, suas coisas em seu apartamento e seu emprego no café. Ele conhecia sua impulsividade, e sabia o quanto isso já foi e era perigoso. Já fez muita besteira a causa dela.<br />- Passou. Já passou- Disse debruçado sobre o parapeito da sacada, enquanto o vento lhe massageava o rosto. Se sentiu bem, mas logo em seguida se deu conta de seu estado engessado: não poderia fazer nada com isso, com este sentimento, com essa descoberta. Entristeceu. Então divagou em possibilidades novamente, no seu retorno do exílio, nos reencontros como tudo e todos que tinha deixado para trás. Sentiu que tinha achado alguma coisa de valor sobre si próprio, algo que antes estava sob um nevoeiro de dúvidas. Olhou diretamente para o Sol que se caminhava lentamente ao horizonte. Conseguir sentir algum calor, apesar do vento gelado, isso o confortou. E decidiu que deveria, pela primeira vez em todo exílio, planejar sua volta, com calma e sem pressa. Embora não tivesse uma casa fixa, em lugar nenhum do planeta, estava pronto para deixar de ser estrangeiro.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-10076464908627321192009-07-18T06:18:00.000-07:002009-07-18T06:22:14.481-07:00A Grande DerrotaExistem muitas maneiras de perder! Os grandes Generais já diziam que ao perder uma batalha, não necessariamente se perdia a guerra. Para o Chapeiro a coisa parecia muita mais complexa. Ele achava que tinha perdido a batalha, a guerra e a tropa. Ele era inteligente, mas preferia a verdade a vitória. E sua grande derrota começou pelo radicalismo de querer saber a verdade. Primeiro, em busca de um pensamento lógico, perdeu a fé. Investigou sua religião ao ponto de ficar confuso e duvidar de dogmas. Uma derrota anunciada, já que se trata de um dogma religioso. Depois, duvidou do positivismo da vida, também das estruturas sociais, da instituição familiar, do futuro. E por ultimo duvidou da fidelidade de quem ele amava. Entrou em uma investigação perigosa. E durante um mês calculou passos, movimentos, contatos e possibilidades de um traição. Não conseguiu a confirmação, mas decidiu blefar. Em um blefe certeiro conseguiu da sua amada um confissão. Tinha sido traído de fato, e acabara de perder seis anos de dedicação a uma relação, agora, falida.<br /> Preferiu a verdade e arriscou seu amor trabalhado aos detalhes e exaustivamente neste grande período. Perdeu a casa, o carro, os dois cachorros, sua moral, sua alegria e seu rumo.<br /> Em meio ao choro compulsivo ouviu pedidos de perdão, que sem pensar atendeu, dizendo ser impossível não perdoar. E era verdade, ele a perdoou. O que não perdoou, nunca, foi o que ela disse depois, o que para ele foi a grande derrota:<br />- Estou saindo desta casa. E já que você sabe tudo, vou morar com ele.<br />Ele parou de chorar na hora e foi arrumar uma mala para sair dali.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-88450430130933251762009-02-10T12:26:00.000-08:002009-02-10T12:27:13.332-08:00Cidade Contaminada ou O Principio do ExílioA Velha cidade estava contaminada. Uma presença invisível transpunha o tempo e se materializava em lugares conhecidos outrora. Essa descoberta deixou o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Chapeiro</span> intrigado. Uma cidade simbólica, com esta potência, poderia se contaminar de tal presença assombrosa?<br />Sim.<br />Esse era o problema. Caminhar pelas ruelas escorregadias poderia ser um perigo para o corpo mas também para a mente caso encontrasse um lugar partilhado anteriormente e supostamente contaminado.<br />A solução não era tão <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_1">óbvia</span> assim. Teria que mudar de cidade, sem sair dela.<br />Buscou nas páginas finais da edição do jornal do dia ofertas de emprego. O décimo quarto anuncio dizia: - precisa-se de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">chapeiro</span>, com ou sem experiência, início imediato, região metropolitana de (...)- e continuava dando mais detalhes. Os próximos movimentos foram uma curta ligação <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">telefônica</span>, uma visita no dia seguinte, e o aceite ao anoitecer. As seis e meia do próximo dia ele estava lá, subindo as escadas que levavam a grande esplanada e a solução aparente para a saída da velha cidade. Estes foram os primeiros caminhos para o grande exílio posterior.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-44532902123963554932009-01-18T03:54:00.000-08:002009-01-18T03:55:01.989-08:00Nacionalidade na ChapaEstrangeiro. O Senhor Árabe que se jogou dos trilhos e o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Chapeiro</span> tinham uma coisa em comum: eram estrangeiros. A notícia do jornal rotulava o suicida como Árabe, porém diziam que mudou-se para cá aos 2 anos de idade. O <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">Chapeiro</span> desconfiou. Ele era estrangeiro (ponto). Mas era estrangeiro porque seu corpo era composto de matéria de sua terra. Ele foi alimentado com coisas de sua região desde que nasceu, e sua mãe também, logo seu corpo “era” sua pátria, derivava da terra de seu pais, isso que para ele lhe garantia sua nacionalidade, ser composto pela terra de determinado lugar. Então ele pensou no Árabe. Se o árabe veio para cá com 2 anos, até esta idade ele era composto (crescia a base de alimentos que comia) de matéria Árabe. Porém quando se mudou, passou a comer coisas daqui e quando seu corpo evoluía, utilizava a comida-matéria local, logo ele era menos estrangeiro do que diziam, quando se suicidou. Mas o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">Chapeiro</span> sabia que o seu caso era diferente, mesmo se comesse até o final da vida ali. Seu corpo foi formado pelo alimento de outras terras e não poderia trocar toda sua matéria. Pensou em engordar o dobro mais 1 <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">kilo</span> de seu peso <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">atual</span>, isso o deixaria com mais matéria local do que a de seu país, mas era uma opção muito trabalhosa e nada saudável. Com um soco, o metro voltou a andar, acelerando bruscamente, para o alívio dos passageiros sufocados pelo <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_5">claustrofóbico</span> túnel e pelo atraso preocupante.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-35629517355949506002009-01-18T03:51:00.000-08:002009-01-18T04:03:42.277-08:00O Árabe SuicidaLentamente o metro da linha 4 foi diminuindo a velocidade até parar completamente. Parou entre duas estações, envolto na penumbra do túnel subterrâneo. Os passageiros se olharam como que se perguntando, sem falar, o que poderia ter causado tal evento. O <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Chapeiro</span> esticou o pescoço, sobre a multidão, sem saber ao certo o que procurava. Pelo sistema de auto-falantes do trem, uma voz grave tentava se sobrepor aos ruídos do aparelho dizendo que um grave acidente na linha 6 atrasaria as linhas concorrentes. No dia seguinte o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">chapeiro</span> saberia que o “grave acidente” teria sido provocado por um senhor de origem Árabe, que resolveu se suicidar as 7:23 da manhã de uma segunda feira, perto do centro da grande cidade, sob as <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">luminárias</span> de uma movimentada estação. O <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">Chapeiro</span> não pôde deixar de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">refletir</span> sobre tal acontecimento: - <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">Ok</span> senhor suicida! Não tenho direito de questionar os porquês, porém por que os suicidas não são discretos? Seria mais simples se tal pessoa avisasse quem a quer dizendo “estou indo em uma longa viajem para um retiro espiritual (ou coisa que o valha) e ficarei incomunicável por muito tempo”. Então <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_6">planeja</span> um suicídio discreto, no meio do nada, de preferência que consuma o corpo (a matéria corpórea), pode-se deixar uma carta para ser entregue tempos depois aos interessados dizendo que morreu de causa súbita, porém branda e rápida. Seria melhor a todos. O metro não iria parar, nem teríamos que passar por cima de manchas causadas pelos líquidos internos do indivíduo.– Incomodado com o atraso, e instigado pelos passageiros que presumiam que tal ato “só poderia ser executado por um estrangeiro” (estavam certos mas não sabiam) o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_7">Chapeiro</span> virou para a janela, encostou o ombro e a cabeça continuou a pensar.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-36871915657957324552009-01-04T01:56:00.000-08:002009-01-04T01:58:15.536-08:00PosoSua estada era incerta. Quase todo dia, até as três da tarde, seu poso era incerto. Não se preocupava muito, parece que o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Chapeiro</span> sabia que de uma forma ou de outra algo iria aparecer e ele conseguira uma cama quente para aquela noite. O equinócio trazia a escuridão cedo; junto com ela, o frio <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">madrugueiro</span> se antecipava com o dilatar das pupilas. O fato de ser canalha e amargo, ajudava nestas horas. Não pensava duas vezes antes de aceitar olhares de senhoras suspeitas ou meninas deslumbradas. Depois de uma aproximação <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">sutil</span>, contava suas histórias mais curiosas de forma sedutora, e transformava a narrativa em laços de desejo. Depois de uma garrafa de vinho ( cabernet sauvignon<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4"></span>, e se corte, tinha que constar na composição) ela já conseguia um convite para um chá ou mais vinho nos aposentos da fêmea. Na casa, quando percebia a excitação em ascensão no ar, falava que precisava ir embora, para arrancar o convite do poso. O que o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">chapeiro</span> estava interessado era o poso. O sexo não era importante, ele gostava mas dispensaria, e se sentiria até melhor se não o fizesse pois conseguiria uma noite de sono com mais horas. Por vezes ele nem gozava. Encaminhava a anfitriã e encenava (mesmo com gemidos tímidos) para poder dormir o sono dos justos. Trocava sexo por poso sem problema. Pela manhã, saia na ponta dos pés para tentar se poupar de despedidas <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_6">melósas</span> e chatas, e as mulheres, em sua maioria, gostavam. Achavam mágico e misterioso. Isso fazia com que ele garantisse um novo poso, se preciso, em datas futuras. Mas isso acabou quando ele trocou mais uma vez de cidade. Se mudou para a Capital. Em duas semanas ele conseguiu o emprego de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_7">Chapeiro</span> no café <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_8">Le</span>’<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_9">Chanson</span>, que ficava depois da grande esplanada.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-77629969018610269612009-01-04T01:55:00.000-08:002009-01-04T01:56:11.262-08:00O que o Chapeiro não têmA conclusão era <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_0">óbvia</span>: Não se pode ter o que quer, estar com quem se quer ou onde se quer estar. Simples assim. O desejo era que movia o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">Chapeiro</span>. O desejo de ter e estar. Amargo era o gosto do saber o que se tem. Uma estranha sensação de sentir falta do que não tem a mão pairava no ar gelado do inverno presente. Uma urgência emergente do vazio solitário de estar em uma cidade nova, cheia de possibilidades, libertaria historicamente e desejada a tempos. Agora que tinha seu <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">objeto</span> de desejo, não sabia o que fazer com ele. Sentia falta de tudo que não podia mais ter. Do ridículo sorriso alheio que lhe escapara pelos dedos até a mais absurda palavra de uma boca que agora não podia se quer olhar. Esse era o jogo. Ficar estático era uma opção muito chata. Mas a ansiedade congelava a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">ação</span> de decidir. Postado, em pé, na janela do pequeno quarto via esquinas brancas e transeuntes lentos que marcavam seus passos na neve tímida. Tentava extrair da velha cidade alguma resposta milagrosa. O vento trazia a noite prematura e as luzes amarelas dos postes de metal escuro. O nariz vermelho do <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">Chapeiro</span> acusava que era melhor fechar a janela e ligar a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">calefação</span>. Uma volta algumas horas depois, em busca do nada, era bem-vinda, sempre tomando cuidado para não escorregar nas calcadas de pedra. Assim se passaram os primeiros dias, entre uma felicidade orgulhosa de ter e estar e uma falta sombria do ausente.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-61210594369945803762009-01-04T01:54:00.000-08:002009-01-04T01:55:10.599-08:00O Chapeiro e DeusEle não sabia por que mas, sua avó sabia que ele estava com a fé abalada, embora nunca tinha tocado no assunto com ela, afinal não queria nenhum debate religioso com tal senhora. Antes de partir, ela disse com a voz gemida e tremula uma reza na língua de seus ancestrais. De todo o enredo o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Chapeiro</span> só lembrava da ultima frase, que soava como algo assim: “<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">iezus</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">mit</span>”. Depois ele foi descobrir que significava “com Jesus”. Aquele trecho ficou em sua cabeça, se repetia como um <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">mantra</span> e não importava que sabia só o final, valia pela reza toda. De alguma forma lhe confortava saber e lembrar disso.<br />- Existe uma relação interessante entre avós e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">proteção</span> divina! – pensava ele. – Minha avó materna resmungava algo que soava como “<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">crendios</span> padre”! Na verdade significava “<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_6">Creo</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_7">en</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_8">Dios</span> Padre”, ou “Creio em Deus Pai”, o inicio de uma reza católica. O Mais curioso é que minha <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_9">vó</span> era de origem <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_10">Polonesa</span> e não tinha relação nenhuma com os espanhóis e sua língua! Por que será que ela resmungava o trecho de uma reza espanhola quando queria demonstrar surpresa ou aversão?-<br />A relação das falas de suas duas avós, fazia o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_11">Chapeiro</span> pensar em Deus, mas pensar em Deus sem acredita-lo. Algo o incomodava na <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_12">idéia</span> de crer, já tinha o feito uma vez, mas não estava mais disposto a isso. Pelo menos não agora.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-26256223815043243342008-11-24T16:10:00.000-08:002008-11-24T16:12:55.818-08:00A Chapa de NovembroA chapa tinha sido desligada pela falta de gás depois do almoço. Pelas duas horas da tarde os funcionários da empresa fornecedora resolveram o problemas e agora eu a religava esperando seu aquecimento. Da janela do café eu via uma tarde quieta e ensolarada de céu azul que anunciava o inverno eminente. O frio do vento o denunciava. Era <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">dezembro</span> anunciado. Entrava em todos os cantos e aqui também. Era incrível com o tempo chegava em todos os lugares ao mesmo tempo. Varria <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">novembro</span> de um lado a outro do mundo, com a diferença criada pela hora dos homens. Este <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">dezembro</span> era especial. Era sozinho e fresco. Novo e desafiador. Estava encarregado de abrir um ano bom, não como os outros, mas especialmente bom. Não digo <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">ótimo</span> para não me precipitar. Não digo magnífico para não me decepcionar. Apenas bom e novo. A mudança como argumento. O Argumento como uma luta esperançosa. E finalmente a coragem do desapego. Final de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">novembro</span>, início de século, a chapa ta quente.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-87384966983943753992008-11-24T16:09:00.002-08:002008-11-24T16:10:28.915-08:00Gozo AlheioQual a distância entre meus olhos e meu falo? Tenho certeza que não é tão grande, pois eu olhava nitidamente para ele, rodeado de pessoas que se utilizavam dele para gozar. Com o braço estendido, agarravam com a mão direita o <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">ereto</span> e festejavam, dando voltas ao seu redor. Eu observava quieto e sorridente a felicidade alheia. Disputavam um espaço no seu tronco para agarrar e desfrutar. No início eram alguns, depois muitos. Todos eles dançavam e gargalhavam ao redor do meu sexo. Sem a paciência da espera. Sem a delicadeza da partida. A brincadeira escondia a vontade, e a vergonha sumia em sorrisos. A felicidade de alguns foi a minha e a sede de outros minha imensa decepção. Mesmo assim me calei, engoli o choro e parti, olhando meu falo usado, despreocupado com os monstros criados e feliz pela verdade emergente.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-37050740592186139742008-11-24T16:09:00.001-08:002008-11-24T16:09:38.441-08:00Pensamentos SaborososMesmo querendo não partilho todos pensamentos meus. Alguns deles guardo só pra mim. Não sei se são os melhores, mas são deliciosos. Me sinto nestes momentos de egoísmo velado com um chefe de cozinha: Algumas receitas ele divulga para saciar paladares sedentos e a fome simples de alguns. Mas alguns pratos, aqueles grandes de tão delicados ou nobres de tão complexos, ele faz só pra ele. Executa a receita com uma delicadeza singular, se dedica a si, procurando detalhes cruciais. Ao final, com tudo pronto, admira a obra e come pausadamente, deslizando os pedaços saborosos por toda extensão da língua. Como parte do processo, deixa o tempo apagar a receita de sua mente, esquecendo-se do modo de preparo, mas não da sensação causada por ele. Sou assim com meus pensamentos. Alguns não escrevo, degusto-os sozinho e depois os esqueço, deixando apenas o gozo de um dia os ter criado.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-5436844366809353542008-11-17T10:35:00.000-08:002008-11-17T10:36:53.846-08:00A Sociabilidade da Cerveja - Uma Sugestão de Pesquisa.Quando se fala na questão de sociabilidade entre uma garrafa de cerveja e uma dose de whisky, fica quase indiscutível que a cerveja é a que promove mais relações de contato.<br />Eu olhava por cima do balcão a um grupo de jovens que conversavam as alegras e um deles tomava whisky, o resto cerveja (s).<br />A Cerveja passa em mão em mão, volta para o centro da mesa, é um totem da atenção daquele espaço. Seu formato fálico estimula a imaginação sexy e não é difícil ver seus bebedores bulinarem os adesivos colados na garrafa como que a despindo ou acariciando-a.<br />A cerveja é coletiva. Vem em engradados, aos grupos.<br />A dose de whisky é individual. Ela não existe, é feita pelo barman.<br />Dificilmente se oferece uma dose de whisky a todos na mesa, pois o copo é único, diferente da quantidade de bocas que o desejam. Apesar de ter um grau alcoólico alto o whisky não consegue suprir a necessidade de limpeza dita como confiável, quando tomado em grupo. Já a cerveja é repartida em copos individuais o que propicia a higiene.<br />O jovem que tomava wiski na mesa realmente não partilhava de uma coletividade plena. Não tocava a garrafa nem participava de sua movimentação sobre a mesa. Ele estava de fora, e ia pagar mais caro por isso.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-24110993873382196512008-10-29T19:36:00.000-07:002008-10-29T19:38:32.716-07:00Eu nunca mais direi te amo!Essa é Jaqueline.<br />Ela esta com pressa.<br />Mas ainda esta em dúvida. Pressa do que?<br /><br />Ela acaba de sair do café l'Echanson e caminha decidida pela esplanada procurando a primeira entrada do metro. (então ela para; olha pra baixo) Pisca duas vezes, e pensa em suas ultimas palavras, ditas alguns minutos antes:<br />Eu nunca mais direi te amo!<br /><br />É a vida!<br /><br />De olhos serrados pela fumaça das frituras, o chapeiro a encara sem dizer nada. Desistiu de argumentar. Acha até que foi convencido.<br /><br />Este é o chapeiro.<br />Ele esta com pressa.<br />Essa não é a historia de sua vida então vou falar só o necessário sobre ele.<br />Ele é amargo e canalha.<br /><br />Chapeiro - Sempre gostei do barulho do botão giratório da chapa de fritura. Girava lentamente pra ouvir e sentir na ponta de cada dedo o “tec” sonoro e maquínico que ecoava por minhas digitais. Talvez seja por isso que tenho tanto prazer em ser chapeiro. Jaqueline apareceu na porta do Bistrô no momento em que eu ligava a chapa de fritura para esquenta-la, no início de uma manhã. Neste momento eu ficava estático observando a chapa metálica por uns vinte minutos, concentrado, vendo o ar sobre a chapa se torcer aos poucos. Mas não neste dia.Como disse, foi nesse momento que Jaqueline entrou, com passos firmes e decididos.<br /><br />Jaqueline – Eu nunca mais direi te amo!<br /><br />Chapeiro – Você nunca me disse isso.<br /><br />Jaqueline – E nunca mais direi. Eu sou a culpada. Tente entender:<br /><br />Chapeiro (em um pensamento de 3,2 segundos) – Preguiça. Ela nunca disse que me amava. Girassol. Cabelos curtos. Olhos turvos. Respirar fundo.<br /><br />Jaqueline – O Amor que sinto, (...) sentia por você é meu. Só fui capaz de te amar bastante por que há amor em mim suficiente para isso. Estou recolhendo este amor agora. Ele volta a ser guardado em mim, para que um dia eu volte a desapertá-lo junto com outra pessoa que o mereça, ou melhor, que me mereça quando este amor estiver liberto. Quando ele esta livre sei que sou melhor, por isso o grande prazer que duas pessoas “amadas” sentem. Só que este amor não é pelo outro, e sim um amor interno que é liberado e torna a pessoa melhor. Estou sendo redundante. Me escute:<br /><br />Chapeiro – Estou entendendo... não tenho participação nisso...<br /><br />Jaqueline – Sim, tem. Como achei você merecedor de atenção maior, despertei o amor em mim para que pudesse te fazer um bem maior. Mas como não é mais merecedor, eu recolho todo o amor em mim, e vou embora!<br />Eu nunca mais direi te amo! Pois o amor é meu e vai embora comigo!<br /><br />Jaqueline sacudiu o guarda chuva na mão direita, chamando a atenção do Chapeiro para as gotículas que se espalharam pelo chão do café. Girando sobre o calcanhar ela deu a ele as costas e saiu trotando sobre as botas de borracha.<br />Ao cruzar a porta e virar a direita ela sentiu pressa, e firmou o passo em direção a esplanada.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-84763973050775530992008-09-24T06:34:00.001-07:002008-09-24T06:36:11.108-07:00Como transformar um Homem Feliz em uma Canalha Amargo. Introdução.Introdução.<br /><br />Sempre gostei do barulho do botão giratório da chapa de fritura. Girava lentamente pra ouvir e sentir na ponta de cada dedo o “tec” sonoro e maquinico que ecoava por minhas digitais. Talvez seja por isso que tenho tanto prazer em ser chapeiro. Mas não contarei esta historia agora. Isso só é importante por que os pensamentos que seguem nas linhas abaixo começaram a me incomodar em um destes momentos, em que ligava a chapa de fritura para esquenta-la, no início de uma manhã. Neste momento eu ficava estático observando a chapa metálica por uns vinte minutos, concentrado, vendo o ar sobre a chapa se torcer aos poucos. Como disse, foi em um destes momentos que comecei a pensar como me tornara amargo. Amargo e canalha. E no decorrer dos vinte minutos, muita coisa passou a fazer sentido.<br /><br /><br /><br />Esta é uma historia muito cara pra mim. Cara e dolorida. Tenha certeza, que se um dia você usar estes pensamentos, você realmente quer magoar alguém. Tenha certeza, pois é um caminho sem volta. Serve para homens, mulheres, infantes, ou qualquer outra categoria de pessoas do seu circulo social. Mas aplicar o que direi aqui não quer dizer que você não gosta da pessoa, ou se usarem com você, não quer dizer, necessariamente, que a pessoa lhe quer mal, pode ser apenas conseqüência de algo. Apenas conseqüência.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-77709490017626010942008-08-23T18:39:00.000-07:002008-08-23T18:50:03.606-07:00Pequenos contos do Senhor Jack - O Novo Chapeiro<div>O Novo Chapeiro</div><div><br /></div>Silencioso no canto estava.<br /><br />Observava com atenção as instruções de seu colega. Este, postado em frente a chapa de fritura, mostrava o quão delicada e especializada era a técnica de se fritar hamburgers. Demonstrava como deveria ser colocada a carne congelada sobre a chapa quente e quais eram as etapas de se montar o tal sanduíche. Ao terminar sua explanação, esticou o braço entregando a espátula gordurenta ao novo funcionário, que no canto da cozinha, formulava algumas questões sobre tais procedimentos. Ao pegar na espátula, pode sentir o deslizar de seus dedos sobre o metal e não pode esconder a expressão de nojo perante tal experiência. – Tens uma luva? Daquelas de plástico sabe? Descartáveis! – indagou o novo funcionário, enquanto procurava com o olhar algo para limpar a gordura entre seus dedos. O colega, desapontado com tal indagação, pois se a explicar, o que para ele, era o segredo e ao mesmo tempo o brilho que mais traduzia o desejo humano/animal sobre aquele objeto de desejo.<br /><br />- Veja bem – iniciou a explicação pausadamente, focando a importância do que diria.<br /><br />- Se eu te dou uma luva, destas de plástico ou de borracha, você ira manejar o hambúrguer com mais higiene, com certeza, e seus dedos não voltaram a sentir o deslizar húmido da gordura no metal da espátula. Porém digamos que, por acidente, você encoste a tal luva na chapa? Certamente o cheiro de borracha queimada subira no ar e atrairá a atenção dos clientes e faces de nojo se transformarão em reclamações e duvidas quanto a qualidade do produto! Veja que isso é um grave problema, ninguém come em um lugar que fede a plástico derretido ou a borracha queimada. Agora pense no mesmo acidente, o de encostar sua mão acidentalmente na chapa de fritura, se você estiver sem luvas, o cheiro da sua carne, da carne de seus dedos, irá se confundir com a fritura da carne do hambúrguer e nada acontecerá! Carne é carne, não da para distinguir a fritura da carne do lanche com a da carne de sua mão! – E com um olhar vitorioso, ajudado pelas sobrancelhas erguidas e um leve bico formado na boca, voltou a realidade e foi entregar o tal sanduíche para a mesa 3, enquanto a aprendiz limpava a gordura da mão em seu avental novo.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-65541628593752921512008-08-14T11:50:00.000-07:002008-08-23T19:12:32.897-07:00Peuqenos contos do Senhor Jack - O Homem da Camao Homem da Cama<br /><br />Silencioso na cama estava.<br />Serrava os olhos para que ela <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_0">não</span> percebesse que ele estava acordado. Ela tinha <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_1">saído</span> da cama a uns 15 minutos ou mais. Ele, deitado no meio da cama, finja estar dormindo para poder <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_2">pensar</span> com calma no que tinha acontecido. <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_3">Faziam</span> seis anos que ele <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_4">não</span> a via. Mas logo percebeu que ela <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_5">não</span> tinha mudado em quase nada. Continuava aquela vagabunda dos tempos do segundo grau. Tinha emagrecido um pouco, isso tinha, mas aquela força <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_6">maldosa</span> de seus olhos castanhos, ainda continuavam, porém mais maduras e fortes. E ali, naquele quarto desconhecido, tudo parecia fazer mais sentido. Estava se segurando para <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_7">não</span> se apaixonar por ela novamente como a seis anos <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_8">atrás</span>. Tentava, mas <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_9">não</span> com muita vontade. Em seis anos <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_10">já</span> tinha superado a dor da perda anterior e pensava, com <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_11">malandragem</span>, que poderia tirar proveito da situação. <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_12">Digo</span> <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_13">malandro</span>, como todo o homem jovem acha que é. Estava um pouco preocupado por que o sexo foi <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_14">rápido</span> demais. Mas ele achava que ela tinha gozado, pelo que pode perceber, ela <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_15">não</span> tinha por que fingir para ele. Para ele, pensou sorrindo de canto de boca, <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_16">já</span> para o marido...<br />Ele se sentia bem. Vitorioso como um bom <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_17">másculo</span>. Viril e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_18">sacana</span>, como um bom homem. Afinal quem tinha que ir embora dali a dois dias ela era. Ele apenas voltaria para a casa da <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_19">mãe</span>, a poucas <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_20">quadras</span> dali. E ali, esparramado sobre a cama <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_21">fingindo</span> estar dormindo, pensava no <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_22">próximo</span> passo. Como convence-la a voltar. Para cama ou para ele tanto faz. <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_23">Já</span> tinha superado a perda de seis anos <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_24">atrás</span>, e se achava capaz de ser mais esperto que a vagabunda.<br />Sentiu um vento frio entrar pela janela e viu, mesmo com os olhos <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_25">semi</span>-abertos, o pano podre da cortina se levantar. Respirou fundo e fechou os olhos para enfim dormir o sono dos <span class="blsp-spelling-corrected" id="SPELLING_ERROR_26">pródigos</span>, sem pensar no que ela fazia no outro canto do quarto.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-22224092513742431782008-08-14T10:52:00.000-07:002009-07-09T11:24:12.290-07:00O Canto da VagabundaO Canto da Vagabunda<br /><br />Silenciosa no canto estava.<br />Pensava no que acabava de fazer. Vagarosamente torceu o pescoço para trás até alcançar a visão da cama. Estava nua e cobria com os braços os seios ainda rijos. Logo após visualizar a cama, e o sujeito que nela estava, voltou novamente o olhar para o canto da parede. Ainda podia sentir a pele húmida entre as pernas. Achava estranho, porém confuso demais para definir. Ela não tinha gozado, talvez estivesse tensa demais para isso, ou desacostumada a um corpo diferente junto ao seu. Tinha que voltar daqui a dois dias, deixar aquele canto e voltar a sua vida monótona e cansativa. Olhou novamente sobre o ombro. O homem dormia espalhado pela cama. Decidiu que tomaria um banho, mas não queria acorda-lo com o barulho do chuveiro. Neste momento percebeu que se sentia suja. Seu corpo então começou a exalar um suor fétido, que junto com o odor de sua virilha quase a fez vomitar. Se sentia suja mas nem dez banhos poderiam a limpar. Tapou o nariz com uma das mãos deixando amostra o seio direito e as marcas vermelhas deixadas pela barba mal feita do homem na cama. ainda bem que tinha dois dias e que quando voltasse ao lar elas já teriam sumido, mas bem que poderia disfarçar com aquele pijama <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">mambembe</span> ou passando aquele creme que, por sorte não jogou fora, pois irritava sua pele, provocando manchas vermelhas similares a essa. Tentava não pensar no futuro, tentou organizar uma fala para sua volta, mas desistiu sem muito interesse. Por um momento sua pele se arrepiou com o vento gélido que veio <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">de repente</span> pela janela, levantando o velho trapo que era usado de cortina. Pensou que o vento pudesse levar aquele mal odor de sua pele mas ao respirar com mais cuidado percebeu que não, que ainda estava suja.<br />E por fim sabia que aquela sujeira não iria sair tão cedo, que o líquido viscoso que escorria por suas pernas não sairia dali nunca, e que aquele homem na cama era apenas mais um.<br />Ele era apenas mais um homem que ela tinha o prazer sarcástico de devorar, e que ele, quando acordasse, seria mais um a deseja-la com aquele ciúmes doentio e uma paixão passageira, que só aquela vagabunda sabia invocar.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-67392569192115185942007-12-06T17:08:00.000-08:002007-12-06T17:20:11.557-08:00Neo-Luditas: DemaZiado UmanosSomos cegos. Surdos e mudos. E como bons <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Umanos</span> não reparamos que temos que usar óculos para enxergar, aparelhos para ouvir e microfones para falar. E isso já faz algum tempo<span style="font-size:78%;">1</span>. Estudamos e utilizamos persistentemente técnicas e métodos que abordamos a séculos, pouco são os Humanos que conseguem ver as potencialidades das tecnologias empregadas ao livre arbítrio. Se dependemos a gerações de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">aparatos</span> tecnológicos para concertar nossos velhos corpos biológicos, como pretendemos ser dignos de ser a única forma de inteligente a “dominar” a Terra? Parece <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">ingênuo</span> pensar que as maquinas não irão superar nossos processos de raciocínio e nossas estruturas baseadas em cadeias de carbono. E devemos ter orgulho de ter <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">projetado</span> tal forma de viva (por enquanto a enxergados como artificial). <br />Estamos em 2007, não sei se toda a humanidade sabe disso, por isso me parece um informação relevante. Um <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">neo</span>-<span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">ludismo</span><span style="font-size:78%;">2</span> inconsciente parece pairar sobre a contemporaneidade. Pessoas passam o dia trabalhando em frente a computadores e a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_6">internet</span> , falam horas em celulares, utilizam carros com <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_7">injeção</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_8">eletrônica</span>, fora os aparelhos citados no início, e mesmo assim não conseguem entender arte digital e admiram e produzem gravuras e pinturas que são discutidas no mundo das Artes a séculos (literalmente). Não podemos negar que existem milhares de interpretações e questões minuciosamente resolvidas sobre as técnicas e poéticas clássicas, mas insistimos em revelas na esperança romântica de “ir alem”. Questões contemporâneas exigem (EXIGEM) técnicas contemporâneas. Não posso falar de como a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_9">internet</span> mudou minha vida em uma pintura a óleo! Se fala tanto em fim do preconceito mas não percebemos que somos inseguros perante o futuro próspero que esta sendo proporcionado pelas tecnologias. Caros artistas, críticos, filósofos, antropólogos, cidadãos, vistamos nossa roupagem <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_10">maquínica</span> sem preconceito! Vamos usar óculos, microfones, satélites, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_11">GPS</span>, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_12">internet</span> sem culpa! Olhemos em nossos calendários para acertar nosso calendários mentais. Nenhuma civilização descartou uma evolução tecnológica e não sejamos os primeiros a regredir.<br /><br /><span style="font-size:78%;">1. Segundo Miguel <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_13">Giannini</span>, esteta <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_14">ótico</span> brasileiro e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_15">diretor</span> do Museu do óculos <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_16">Giconda</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_17">Giannini</span>, o filosofo chinês Confúcio foi o primeiro a relatar <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_18">registros</span> dos primeiros óculos aproximadamente 500 anos a.c., porém a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_19">ótica</span> aparece realmente 1.400 anos depois. No final do século <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_20">dezenove</span> surgiu a primeira prótese auditiva <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_21">elétrica</span>, a partir da invenção do telefone por <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_22">Graham</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_23">Bell</span>, em 1876. Emile <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_24">Berliner</span> inventou o microfone em 4 de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_25">março</span> de 1877, porém o primeiro microfone usável foi inventado também por <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_26">Graham</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_27">Bell</span>.<br /><br /></span><span style="font-size:78%;">2. “Em <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_28">março</span> de 1990, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_29">Chellis</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_30">Glendinning</span>, psicóloga do novo México, publicou " Notas rumo a um manifesto <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_31">neoludita</span>", buscando das legitimidade aos que resistiam, por se sentirem incomodados, de um jeito ou de outro, ante a tecnologia da segunda Revolução Industrial; o texto lançou <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_32">idéias</span> afim de articular as criticas e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_33">objetivos</span> do grupo.<br />"Os <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_34">neoluditas</span> têm a coragem de olhar a catástrofe total de nosso século, resultantes do fato de as tecnologias criadas e disseminadas pela sociedades ocidentais modernas estarem fora de controle e profanando a frágil teia da vida na Terra", escreveu a autora. Em seguida, sublinhando o elo com o passado, ela acrescentou: " Como os primeiros <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_35">luditas</span>, também somos pessoas desesperadas, procurando proteger as existências, famílias e comunidades dos que amamos, e que se encontram beira da destruição".<br />Argumentando que a eficaz resistência a esse processo " requer não somente regulamentação, ou eliminação de itens específicos - pesticidas ou armas nucleares", mas também " novas maneiras de pensar" e, em contrapartida, "a criação de uma nova visão de mundo".<br /><br /></span>Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-43115256292734364152007-12-04T09:31:00.000-08:002007-12-04T09:32:03.069-08:00O Destruidor ZoroastroDentre os elementos do eterno retorno Nietzscheniano, a destruição se destaca como elemento final e de recomeço, em um processo purificador do objeto transformado. Antagônicos e tão próximos, o inicio e o fim fazem uma paralelo entre o bem o mal, na busca de Zaratustra pelos enredos da moral. A destruição se aloca, através da moral, ao lado do maligno e consequentemente, o ruim. Os destruidores, para Nietzsche, aparecem ao longo do Livro “Assim Falou Zaratustra”, como aqueles que não podem ser classificados no campo do mal, e sim desprezadores deste conceito, assim como o do bem. O destruidor para alem do bem e do mal seria algo potencialmente mais corrosivo a moral.<br />O Destruidor Zoroastro viria primeiramente como a entidade que quebra as leis da moral, e sem esta, consegue destruir os limites impostos ao individuo, físico e em estado de consciência (imaterial), violar as leis físicas para voar, fazendo o que hoje a Realidade Virtual o faz, com estrema liberdade de mobilidade, projetando a consciência a estes novos mundos imorais por natureza. Os mundos virtuais anseiam por se tornarem espaço de liberdade por definição, destruindo preconceitos referentes a visualização do corpo off-line, localização geográfica, classe social, estabelecendo um outro (não novo) modo de respeitabilidade. O Ódio próprio e voltado ao coletivo, gerado pela intervenção das instituições de moral (moral herdada), assinalam a então prisão do instinto castrado.<br />No contexto dos Universos Virtuais o Avatar libertado da “moral do escravo” se torna o “Virtuelle-Übermensch”, o Super-Homem Virtual (extropiano exemplar), destruidor dos restos de do Deus, abre os portas (seriais) para o pós-humano, ainda não imoral, porém encharcado da promessa de liberdade. Por traz deste Avatar imaterial esta o haker, cidadão do on e off-line, que aplica a “imoralidade”, contrária a ética Protestante do capital, destruindo o horário comercial e construindo o paraíso cristão da vida eterna no infinito código binário extropiano.<br />Definindo o humano não como o final do processo evolutivo, mas como uma fase para a chegado ao pós-humano, Nietzche ressurge nos discursos contemporâneos impregnando Cyborgs e a cibercultura. No caminho da destruição do processo moral, o “Destruidor Zoroastro” desce da montanha virtual, portando dois números, um em cada mão, são eles 0 e 1, destruidores do real clássico e, de acordo com o eterno retorno, irão reconstruir os códigos de ética que aprisionam os instintos humanos.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-85355640042294046062007-12-04T09:24:00.000-08:002007-12-04T09:25:07.751-08:00O Ciberespaço HumanizadoA humanização das tecnologias computacionais está presente sobretudo na visualidade das interfaces e na ergonomia dos periféricos de interação homem/maquina. A visualização 3D on-line possibilita uma projeção dos sentidos em uma imersão em um espaço virtual. Espaço este que sem peso, sem distancia e com um outro tempo, nós faz quase literalmente desassociar corpo físico de consciência atuante. Na atualidade dezenas de mundos virtuais estão disponíveis para serem literalmente habitados. Não bastando a diversidade de mundos, há ainda dentros destes universos virtuais servidores diferentes que funcionam como realidades paralelas dentro destes universos específico. É o caso do game Line Age II, um mundo medieval on-line multiusuário, que reúne cerca de 100 a 500 usuários por servidor que atuam sobre um mundo virtual comum. Neste caso existem centenas de servidores paralelos atuando sobre uma mesma localização visual, que é atualizada e expandida a cada atualização do game. Outro exemplo da contemporâneidade é o Second Life, um universo on-line multiusuário, mas que funciona em um único servidor comum, porém a um número limitado de usuários por cada localidade dentro do mapa. Seguindo esta linha, cito o Entropia Project, um mundo virtual como os citados acima, que apresenta um futuro possível a humanidade, que vive em um planeta denominado Kalypso.<br /> Os três exemplos recorrem a um imaginário tecnológico, onde através da tecnologia o humano cresce ou é abafado. A possibilidade de uma Era mágica (Line Age II), um novo espaço de atuação corpórea onde as leis físicas não atuam (Second Life), e uma projeção de futuro apocalíptico (Entropia Project) ressaltam linhas de pensamentos filo-sociológicos da atualidade.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-54243165259068820582007-12-04T09:18:00.000-08:002007-12-04T09:20:07.167-08:00LineAge II - Universos Virtuais/ReaisEste artigo pretende abordar questões relativas as comunidades virtuais conectadas e relacionadas com o Game Lineage II: The Chaotic Chronicle, um MMORPG desenvolvido pela NCsoft, onde o jogador experimenta o simulacro de um mundo sintético baseado em uma fusão de narrativas mitológicas, uma ressacralização para o reencantamento do Mundo, como cita Maffesoli.<br />No Game, um espaço tridimensional simula um grande continente onde os jogadores convivem on-line com outros jogadores, junto com Mobs, seres virtuais dotados de comportamentos autônomos regidos por sistemas de inteligência artificial. Neste espaço dezenas de players estabelecem uma relação social complexa, como as de poder, entre si e com os seres autônomos.<br />A característica de um regime social tribalista, é apontada por Maffesoli com uma das características da cibercultura e da pós modernidade, e se faz ativa no Game quando as subdivisões e hierarquias são montadas e sub-classes, não previstas na estrutura do Jogo ou pelo gamemaster, são instituídas por ações comuns entre os player. Consequentemente cada servidor constrói sua estrutura social de modo diferenciado, pois cada meta-universo é constituído por diferentes usuários. Segundo Lemos, a criação destes certames sócio-digitais vem como “expressão cotidiana da vida que se rebela contra as formas instituídas e cristalizadas”, onde as leis e códigos de conduta são ditados por um anseio de uma convivência diferenciada ao mundo off-line.<br />Ainda ao modo tribalista da convivência desta comunidade virtual, o Lineage II apresenta uma série de iniciações ritualísticas aos novatos que pretendem galgar uma posição fixa em um determinado Clã (grupo social fechado). Estas iniciações propostas pela programação prévia do jogo, são alteradas e modificadas pelos lideres dos clãns, conforme a conduta ideológica que este se apresenta. Estas tarefas ou quests servem para que o avatar ganhe pontos de reputação, uma outra importante característica das comunidades virtuais. A reputação respaldara o player em sua vivencia cotidiana, dando a ele poder de palavra, poder territorial e respeito por parte de outros clãs, como afirma o player Aevon:<br /><br />“(...)duas características importantes: status, e reputação. (...) o char1 que tem um certo nível de reputação (adquirido com pontos que são ganhos conforme você ajuda ou lidera outros chars ou mesmo um clã)”2<br /><br />Com a reputação como item de valor, vemos surgir um sistema de capital-afetivo, onde as redes de colaboração irão influenciar na vivencia do player no universo virtual, gerado uma esfera onde o biopoder independe dos criadores do Game ou do criador do servidor, surge então, uma nova classe de independência para a comunidade virtual do contexto.<br />Alem de assumir um papel através da escolha primaria de classe e raça, o player se doa a uma ação pelo grupo: alguns players de classe Buffer, por exemplo, não são gerreiros, feiticeiros ou artesãos, apenas tem o objetivo de curar e proteger os demais jogadores, fazendo a sua existência indispensável ao clãn, porem de atuação restrita no meta-universo. Maffesoli, mais uma vez, aponta a diluição da perspectiva individualista da modernidade em prol de uma coletividade, a organicidade da sociedade.<br />Quando perguntado sobre a passagem do off-line do circulo social para o on-line o avatar Aevon responde:<br /><br />“(...) o jogo on-line ajuda no reencontro dos antigos jogadores de RPG de mesa, e também no contato de novas pessoas que gostam do mesmo estilo de jogo. Eu como exemplo jogava RPG de mesa com sete amigos e aos poucos com o passar do tempo eu e também eles foram se mudando para outras cidades e estados, então um deles resolveu criar um servidor de line age para nos continuarmos jogando juntos, então dai nasceu o Seven que é hoje um dos maiores clãs do servidor AWBR o qual eu tenho orgulho de ser o líder com o char chamado Aevon.” 2<br /><br /> Mais uma vez as “tecnologias de afeto”, produzem e fomentam o contato de aquecimento das relações sociais, transformando o PC gélido em uma maquina quente, meio de comunicação e propagação das sutilezas do humano.<br />Visualmente, o Universo de Lineage II se apresenta em um espaço tridimencional finito, onde a cada atualização do jogo são disponibilizados mais espaços de atuação com novas quests e itens. O game simula um continente com variação climática e de flora, que representa as diferentes paisagens do planeta Terra. Na questão temporal, os dias se apresentam mais curtos, porem a ação dos personagens e avatares se da em real time, “tempo produtor de experiências e imagens fluidas, que estão sempre passando, abertas ao acaso e ao acontecimento, mas também passível de controle e monitoramento.” 3<br /> O espaço Virtual simulado se apresenta como espaço vivo, multisensorial, sensível a atuação dos player, e não somente passivo de reação. Consequentemente o jogador deixa de ser um mero espectador passivo e vira espectador-ator , que modifica o espaço e as atitudes dos outros players.<br /> Em outra característica deste espaço sensível, o monitoramento constante se faz presente, ou melhor, onipresente. A qualquer momento do jogo um player pode contatar o Gamemaster, pois este, tem acesso a todas as conversar, transações monetárias e localização espacial dos avatares, que vigia e pune, cria e bane, em alusão ao Deus clássico.<br /><br />1 – Char deriva da contração de Character, ou personagem do Jogador – Avatar.<br />2 – Trecho retirado de conversa em chat entre o Autor e os Jogadores no ambiente de jogo, nos meses de junho-julho de 2007.<br />3 - Conceito de Tempo real segundo Ivana Bentes.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-61772452371638209182007-12-04T09:13:00.000-08:002007-12-04T09:14:13.892-08:00Tecnologias da IncertezaA tecnologia, hoje se remodela, tanto em conceito como em matéria. Consegue se desvincular dos conceitos modernistas, pragmáticos e taxativos. O Marxismo envolveu as idéias tecnológicas em narrativas de progresso, assim como, na modernidade estas eram encaradas com narrativas do esquecimento do ser, reduzindo o universo cognitivo a um modelo de desejo humano, se necessário excluindo seus próprios conceitos iniciais.<br />Em um momento histórico onde a certeza positivista (ou de esquerda) da lugar as tecnologias da incerteza, em que a ambigüidade somada a um acaso aparente, a internet, por exemplo, pode tanto ser vista do ponto celebrativo, trazendo a democratização, a livre troca de informações (sem gatekepper declarado), ou em um ponto de vista apocalíptico, onde o neonazismo encontra espaço para publicação e a sexualidade bizarra materializa sua existência assumida. O acaso (Heidegger) esta ativado neste sistema, o fluxo de informação vária e toma forma energética caótica e quase imprevisível, dentro de uma capacidade de potência da maquina.<br />A resistência e o medo destas “novas” (nada inéditas) tecnologias, na verdade faz parte de uma construção de um lugar comum, onde esta , em outra ambigüidade, materialização virtual do mundo imaginário (somando o imaginário ao religioso, ao sonhado,...), e a realização real e verdadeira destes conceitos abstratos.<br />A saída poderá estar em uma nova visão e leitura conceitual destas novas tecnologias, sem preconceitos nem paradigmas modernos. A potencialidade destas tecnologias são aparadas por conceitos que não conseguem abranger toda sua abrangência libertaria. De imediato podemos pensar na interface dos sistemas operacionais de maior uso: a mesa ou a desktop, é um exemplo nítido de como um conceito quase tão antigo quanto a própria historia da humanidade, encontra espaço em um suporte tecnológico atual que limita, no caso, o entendimento da amplitude de ação da interface do computador pessoal, transformando algo a priori sem limites físicos nem de atuação, é pragmatizado em uma superfície bidimensional, pobre ao potencial da maquina.<br />Talvez estas ligações entre uma nova tecnologia e conceitos antigos, esteja em uma segurança , em meio ao estar perdido na rede, ou sem um local de partida fixo, ou um local fixo para quando voltar. Até mesmo esta questão do ir e vir (questões relacionadas ao espaço-tempo convencional) estão suspensa neste caminhar constante das tecnologias contemporâneas. Como podemos pensar um ciberespaço sem pensar o infinito espacial? Ainda em mundos virtuais como o Second Life , que tem certo desapego com as leis físicas, apresenta ainda limitações que são só pertinentes a realidade concreta como a “casa”, as paredes das construções, não imateriais verdadeiramente e não transponiveis por um Avatar também imaterial.<br />As tecnologias do imaginário se efetivam materialmente nos meios de comunicação atuais, em um amálgama entre o cinema, televisão, internet, que agora (na pós-modernidade?) interroga a divisão entre estas categorias, assim como a arte que na contemporaneidade que tenta extinguir os antigos conceitos de técnicas isoladas e tende a uma idéia de hibridismo como produto final.<br /> Estas tecnologias são subdivididas em de controle; de crença; do espírito; e da inteligência. Cada uma abrange uma parte deste imaginário coletivo, suspenso, mas influenciável na cultura de todas as épocas. A publicidade, sendo uma das principais tecnologias do imaginário contemporâneo atua como difusora do que Baudrillar chama de fenômenos extremos. Invés de persuadir o espectador, esta acaba por seduzi-lo, agregando um conceito dito como cult , ou outro axioma social positivo. Este expectador-consumidor participa de sua “dominação”, deixando de lado a velha manipulação de massa, e aderindo a causa do produto, tomando partido em um pensamento político e o propagando junto com a a marca. Somos livres para escolher as nossas dependências. Esta contribuição da publicidade cria símbolos, cada um com seu valor social, que será usado pela sociedade a serviço de uma coesão social.<br /> Por final, esta mesma publicidade gera a mitologia das profissões, recriando alguns estereótipos da modernidade em mitos contemporâneos. Quem faz o produto de adesão e sedução é seduzido pela mitologia do técnico, equipado das tecnologias por ele empregada.<br /> A cibercultura, instaura seu próprio imaginário (efetivado pelas técnologias), ao mesmo tempo que esta é também influenciada.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7691964578263184883.post-62107843403058957652007-12-04T08:07:00.002-08:002007-12-04T08:08:29.085-08:00(O) culto maquinico - Parte 2CAPITULO 1 – RECONHECIMENTO<br />Baterias carregadas.<br />Entre as tarefas, que estavam em ordem de importância, a de procurar informações sobre o que estava ocorrendo era a primeira. Seu sinal hi-fi vasculhava o ar em busca de alguma rede, mas nem ruídos eletromagnéticos eram captados.<br />Ausência de sinal. Esta com certeza não era uma das características daquele lugar em dias normais. Esticou ao máximo o alcance do hi-fi. Forçar o alcance iriam torrar suas baterias, e ele sabia que precisaria delas cheias para aquela lista de tarefas. Deixou então o sinal padrão, e seguiu por cima dos escombros, retornando a casa.<br />Dentro dela, andou até a parede do fundo da sala, admirando novamente a sombra nela projetada. Estendeu seu braço e encostou a ponta do polegar opositor sobre a fina camada escura. Carbono. Moléculas de nitrogênio, algum hidrogênio, e, em menor proporção, outros elementos polvilhavam a superfície. Seu processador ainda estava identificando os últimos elementos quando um fraco sinal cruzou seu receptor. Novamente potencializou sua antena de captação. Era uma rede. Fraca e com muitos ruídos, mas parecia trafegável. Juntou as pernas, inclinou, e sentou sobre elas. Posicionou os braços junto ao tronco, ficando ereto. Verificou novamente o sinal, e decidiu entrar, deixando seu corpo robótico executando um programa de espera.<br />Ao entrar na rede percebeu que esta se encontrava em freqüências precárias, o sistema de risco assinalava que existia perigo nesta conexão, pois alem de deixar a porta do corpo robótico entreaberta para vírus ou programas espiões, se a rede caísse poderia causar sérios problemas de memória e locação perspectiva, já que está estava agora a navegar nesta rede desconhecida e solitária.<br />Estava a procura usuários remotos, alguém com quem poderia estabelecer uma conversa para se informar da situação, e relatar o desaparecimento de seus humanos. Aparentemente todas as portas de saída estavam vazias, então decidiu ir diretamente a fonte do sinal. Chegando próximo identificou um padrão VRML-X, que significava que iria necessitar de um avatar para adentrar a fonte, pois esta estava programada em uma interface gráfica de um mundo virtual, muito comum na maioria das redes.<br />Decidiu usar o Avatar de um humano número 6, um modelo que vinha junto com o sistema operacional robótico, era standart, mas servia na maioria dos casos.<br />Enviou o protocolo de entrada, agora teria que esperar uma porta para a fonte. Após alguma demora foi aberta uma janela de boas vindas, tímida mas eficiente, com o código da conexão.<br />Conectado e “materializado” no universo virtual da fonte olhou ao redor: era como uma grande biblioteca mas aparentemente vazia. Seus sensores virtuais mostravam uma presença de um programa mestre, mas sem um avatar visível. Caminhou até uma longa estante, e ao fundo algo que parecia um livro vibrava entre totalmente visível e a desmaterialização. Através de seus sensores identificou o código que o tal livro emanava, e percebeu que era de alguma estrutura regida por inteligência artificial. Provavelmente algum robô estava tentando entrar por ali, tal como ele fez. Tentou conectar a este sinal, mas como estava oscilando, não conseguia estabilidade necessária para uma comunicação. Voltou então pelo longo corredor e foi até o balcão de informações, procurando algum dispositivo para se comunicar com o Codemaster. Ao perceber a atitude de busca do avatar o sistema do universo virtual se apresentou ao Avatar número 6. Enfim, este voltou seu olhar ao redor procurando o avatar da fonte e, pela porta de entrada, surgiu um avatar hibrido, característico dos seres viruais, e logo se posicionaram frente a frente. O Codemaster se apresentou, identificando-se com o programa regente daquele servidor. Antes mesmo de qualquer pergunta ou interrupção, adiantou que o servidor estava com problemas sérios, na verdade não ele propriamente, mas provavelmente os usuários que estavam praticamente todos desconectados. Os que ainda emanavam sinais oscilavam muito rapidamente e não obtinham freqüência para uma conexão segura. Ao acabar a frase o próprio Codemaster piscou. Uma janela de mensagem do sistema se abriu informando a instabilidade do sistema e sua queda eminente. Rapidamente o Avatar numero 6 andou a passos firmes até a porta de saída e ao olhar para traz viu o Codemaster sumir por completo. A porta de saída estava segura, o código estava limpo e liberou a desconexão sem problemas. Agora era só reativar o corpo robótico e fechar a conexão. Toda esperança de alguma informação foi frustrada. Realmente aquele sinal não era seguro, dado a baixa força de propagação.<br />De volta ao corpo robótico, logo percebeu que aquele sinal estava rapidamente sumindo até que parou de ser captado.<br />Voltava a estaca zero. Reativou seus mecanismos motores e sensores robóticos, retornado algumas baratas que se aproveitaram se seu estado estático para vasculharem a lataria, a procura de alguma coisa desconhecida. Novamente olhou para a sombra. Dando as costas a parede caminhou novamente para fora da casa, disposto agora a achar qualquer forma de inteligência, seja humana, virtual ou robótica.Jack Holmerhttp://www.blogger.com/profile/17596548590905908776noreply@blogger.com0