domingo, 4 de janeiro de 2009

O que o Chapeiro não têm

A conclusão era óbvia: Não se pode ter o que quer, estar com quem se quer ou onde se quer estar. Simples assim. O desejo era que movia o Chapeiro. O desejo de ter e estar. Amargo era o gosto do saber o que se tem. Uma estranha sensação de sentir falta do que não tem a mão pairava no ar gelado do inverno presente. Uma urgência emergente do vazio solitário de estar em uma cidade nova, cheia de possibilidades, libertaria historicamente e desejada a tempos. Agora que tinha seu objeto de desejo, não sabia o que fazer com ele. Sentia falta de tudo que não podia mais ter. Do ridículo sorriso alheio que lhe escapara pelos dedos até a mais absurda palavra de uma boca que agora não podia se quer olhar. Esse era o jogo. Ficar estático era uma opção muito chata. Mas a ansiedade congelava a ação de decidir. Postado, em pé, na janela do pequeno quarto via esquinas brancas e transeuntes lentos que marcavam seus passos na neve tímida. Tentava extrair da velha cidade alguma resposta milagrosa. O vento trazia a noite prematura e as luzes amarelas dos postes de metal escuro. O nariz vermelho do Chapeiro acusava que era melhor fechar a janela e ligar a calefação. Uma volta algumas horas depois, em busca do nada, era bem-vinda, sempre tomando cuidado para não escorregar nas calcadas de pedra. Assim se passaram os primeiros dias, entre uma felicidade orgulhosa de ter e estar e uma falta sombria do ausente.