domingo, 18 de janeiro de 2009

O Árabe Suicida

Lentamente o metro da linha 4 foi diminuindo a velocidade até parar completamente. Parou entre duas estações, envolto na penumbra do túnel subterrâneo. Os passageiros se olharam como que se perguntando, sem falar, o que poderia ter causado tal evento. O Chapeiro esticou o pescoço, sobre a multidão, sem saber ao certo o que procurava. Pelo sistema de auto-falantes do trem, uma voz grave tentava se sobrepor aos ruídos do aparelho dizendo que um grave acidente na linha 6 atrasaria as linhas concorrentes. No dia seguinte o chapeiro saberia que o “grave acidente” teria sido provocado por um senhor de origem Árabe, que resolveu se suicidar as 7:23 da manhã de uma segunda feira, perto do centro da grande cidade, sob as luminárias de uma movimentada estação. O Chapeiro não pôde deixar de refletir sobre tal acontecimento: - Ok senhor suicida! Não tenho direito de questionar os porquês, porém por que os suicidas não são discretos? Seria mais simples se tal pessoa avisasse quem a quer dizendo “estou indo em uma longa viajem para um retiro espiritual (ou coisa que o valha) e ficarei incomunicável por muito tempo”. Então planeja um suicídio discreto, no meio do nada, de preferência que consuma o corpo (a matéria corpórea), pode-se deixar uma carta para ser entregue tempos depois aos interessados dizendo que morreu de causa súbita, porém branda e rápida. Seria melhor a todos. O metro não iria parar, nem teríamos que passar por cima de manchas causadas pelos líquidos internos do indivíduo.– Incomodado com o atraso, e instigado pelos passageiros que presumiam que tal ato “só poderia ser executado por um estrangeiro” (estavam certos mas não sabiam) o Chapeiro virou para a janela, encostou o ombro e a cabeça continuou a pensar.

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